1. Sansão[i]
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Anúncio do nascimento de Sansão – 1Os israelitas recomeçaram a praticar o que era mau aos olhos de Iahweh, e Iahweh os entregou nas mãos dos filisteus durante quarenta anos.[1]
2Havia um homem de Saraá, do clã de Dã,[ii] cujo nome era Manué. Sua mulher era estéril e não tinha filhos. 3O Anjo de Iahweh[iii] apareceu a essa mulher e lhe disse: “Tu és estéril e não tiveste filhos, 4mas conceberás e darás à luz um filho. De agora em diante toma cuidado: não bebas vinho nem qualquer bebida fermentada, e não comas nenhuma coisa impura.[2] 5Porque conceberás e terás um filho. Sobre a sua cabeça não passará navalha, porque o menino será nazireu de Deus desde o ventre de sua mãe. Ele começará a salvar a Israel das mão dos filisteus.”[iv] [3] 6A mulher entrou e disse ao seu marido: “Um homem de Deus me falou, um homem que tinha a aparência do anjo de Deus, a tal ponto era temível. Não lhe perguntei donde vinha, e nem ele me disse o seu nome.[4] 7Mas ele me disse: ‘Conceberás e darás à luz um filho. De hoje em diante não bebas vinho nem qualquer bebida fermentada, e não comas nenhuma coisa impura, porque o menino será nazireu de Deus desde o ventre de sua mãe até à morte!”‘
Segunda aparição do Anjo – 8Então Manué implorou a Iahweh, dizendo: “Rogo-te, Senhor, que o homem de Deus que tu enviaste venha outra vez visitar-nos, para que nos diga o que devemos fazer ao menino assim que tiver nascido!” 9Deus ouviu Manué e o Anjo de Deus veio outra vez ao encontro da mulher, estando ela assentada no campo, e quando Manué, seu marido, não estava presente. 10Imediatamente a mulher correu a informar o marido e lhe disse: “O homem que veio ter comigo outro dia veio outra vez.” 11Manué levantou-se, seguiu sua mulher e foi ter com o homem e lhe disse: “És tu o homem que falou a esta mulher?” Ele respondeu: “Eu mesmo.” 12Disse-lhe Manué: “Quando se cumprir a tua palavra, como deverá ser a vida do menino, que trabalho fará?” 13O Anjo de Iahweh respondeu a Manué: “De tudo o que proibia esta mulher deverá ela abster-se. 14De tudo o que procede da videira não provará: nem vinho, nem bebida fermentada, nem comerá coisa alguma impura. Tudo o que lhe prescrevi deve ela observar.”[v] 15Disse então Manué ao Anjo de Iahweh: “Permite que te detenhamos e te ofereçamos um cabrito.” 16E o Anjo de Iahweh disse a Manué: “Ainda que me detivesses, não comeria da tua comida; mas, se quiseres preparar um holocausto, oferece-o a Iahweh.” Porque Manué ignorava que era o Anjo de Iahweh. 17Manué disse então ao anjo de Iahweh: “Qual é o teu nome para que, assim que se cumprir a tua palavra, possamos prestar-te homenagem?”[5] 18O Anjo de Iahweh lhe respondeu: “Por que perguntas meu nome? Ele é maravilhoso.”[vi] 19Então Manué tomou o cabrito, com a oblação, e, no rochedo, o ofereceu em holocausto a Iahweh, que realiza coisas maravilhosas. Manué e sua mulher observavam. 20Ora, subindo a chama do altar para o céu, o Anjo de Iahweh subiu na chama do altar, sob os olhos de Manué e de sua mulher, e eles caíram com o rosto por terra.[6] 21O Anjo de Iahweh não mais apareceu a Manué nem à sua mulher, e Manué compreendeu então que era o Anjo de Iahweh.[vii] 22″Certamente morreremos,” disse Manué à sua mulher, “porque vimos a Deus.”[7] – 23″Se Iahweh tivesse pretendido matar-nos,” respondeu-lhe a mulher, “não teria aceitado nem o holocausto nem a oblação, e não nos teria feito ver tudo o que acabamos de ver, nem nos teria revelado, ao mesmo tempo, o que nos disse.”[8] 24A mulher deu à luz um filho, ao qual deu o nome de Sansão. O menino cresceu, Iahweh o abençoou, 25e o espírito de Iahweh começou a impeli-lo para o Acampamento de Dã, entre Saraá e Estaol.[9]
[1] Js 13,2+
[2] Js 15,33 // Gn 11,30; 18,1-15 // 1Sm 1 // Lc 1,5-25
[3] Nm 6,1+
[4] Mt 1,14
[5] Gn 32,30 // Ex 3,14+ // Ap 19,12
[6] Lv 9,24 // Ez 1,28 // Ap 1,17
[7] Ex 33,20+
[8] ↗Hb 11,32
[9] Jz 3,10+ // Jz 18,12 // Js 19,41
[i] A história de Sansão é diferente de todas as outras narrativas do livro. Ela conta, do nascimento à morte, a vida de herói local, que é forte como gigante e fraco como criança, fascina as mulheres e é enganado por elas, põe em apuros os filisteus, mas não liberta deles a região. A história tem o humor vigoroso dos contos populares nos quais as pessoas que têm de suportar um opressor, se vingam dele, pondo-o em ridículo. Em contraste com esse aspecto popular e profano, Sansão é consagrado a Deus desde o seio de sua mãe, e seu “nazireato” é a fonte de sua força. Foi esse aspecto carismático que lhe valeu um lugar entre os Juízes. – A narrativa é coleção de fatos interessantes: nascimento de Sansão (13,2-25), casamento e enigma (14,1-20), Sansão e os filisteus (15,1-8.9-19), com primeira conclusão (v. 20), Sansão em Gaza (16,1-3), Sansão e Dalila (16,4-21 ), prisão e morte de Sansão (16,22-30), com segunda conclusão (v. 31).
[ii] A tribo de Dã recebera um território onde se encontram as localidades aqui citadas: Saraá, Estaol e Tamna (cf. Js 19,40+); ela emigrou para o norte (Jz 17-18). As histórias de Sansão parecem supor uma situação posterior a essa migração na qual os filisteus não intervêm. Mas clãs que permaneceram no local viviam misturados com os cananeus e submetidos aos filisteus.
[iii] Cf. 2,1; 6,11 e Gn 16,7+. No v. 22, o Anjo se identifica com Iahweh, como em 6,22-23.
[iv] Essa informação justifica a ligação de Sansão com os Juízes, mas reconhece que a vitória decisiva sobre os fi1isteus não será obra de Sansão: será necessário esperar Saul e Davi.
[v] Como Jeremias (Jr l,5) e o Servo (Is 49,1), Sansão é consagrado a Deus desde o seio de sua mãe. Esta deve observar as prescrições do nazireato, que se imporão ao filho que ela concebeu.
[vi] O anjo dá a entender que seu nome é indizível. Não é exatamente uma recusa, pois este nome será reconhecido pela ação realizada (cf. v. 19).
[vii] Manué quis, como Abraão para com seus três visitantes (Gn 18), cumprir seus deveres de hospitalidade. Por ordem do Anjo, a refeição é transformada em holocausto, no qual Iahweh se revela. Comparar com o sacrifício de Gedeão (6,19-22).