I. História dos Patriarcas[i]
1. Ciclo de Abraão[ii]
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Vocação de Abraão[iii] – 1Iahweh disse a Abrão: “Sai da tua terra, da tua parentela e da casa d teu pai, para a terra que te mostrarei.[1] 2Eu farei ele ti um grande povo, eu te abençoarei, engrandecerei te u nome; sê uma bênção!
3 Abençoarei os que te abençoarem,
amaldiçoarei os que te amaldiçoarem.
Por ti serão benditos todos os clãs da terra.”[iv][2]
4Abrão partiu, como lhe disse Iahweh, e Ló partiu com ele. Abrão tinha setenta e cinco anos quando deixou Harã. 5Abrão tomou sua mulher Sarai, seu sobrinho Ló, todos os bens que tinham reunido e o pessoal que tinham adquirido em Harã; partiram para a terra de Canaã, e aí chegaram.
6Abrão atravessou a terra até o lugar santo de Siquém, no Carvalho de Moré. Nesse tempo os cananeus habitavam nesta terra.[3] 7Iahweh apareceu a Abrão e disse: “É à tua posteridade que eu darei esta terra.”[v] Abrão construiu aí um altar a Iahweh, que lhe aparecera.[4] 8Daí passou à montanha, a oriente de Betel, e armou sua tenda, tendo Betel a oeste e Hai a leste. Construiu aí um altar a Iahweh e invocou seu nome. 9Depois, de acampamento em acampamento, foi para o Negueb.
Abraão no Egito[vi] – 10Houve uma fome[vii] na terra e Abrão desceu ao Egito, para aí ficar, pois a fome assolava a terra.[5] 11Quando estava chegando ao Egito, disse à sua mulher Sarai: “Vê, eu sei que és uma mulher muito bela. 12Quando os egípcios te virem, dirão: ‘É sua mulher,’ e me matarão, deixando-te com vida. 13Dize, eu te peço, que és minha irmã,[viii] para que me tratem bem por causa de ti e, por tua causa, me conservem a vida.” 14De fato, quando Abrão chegou ao Egito, os egípcios viram que a mulher era muito bela. 15Viram-na os oficiais do Faraó e gabaram-na junto dele; e a mulher foi levada para o palácio do Faraó. 16Este, por causa dela, tratou bem Abrão: ele veio a ter ovelhas, bois, jumentos, escravos, servas, jumentas e camelos. 17Mas Iahweh feriu Faraó com grandes pragas, e também sua casa, por causa de Sarai, a mulher de Abrão. 18Faraó chamou Abrão e disse: “Que me fizeste? Por que não me declaraste que ela era tua mulher? 19Por que disseste: ‘Ela é minha irmã!’, de modo que eu a tomasse como mulher? Agora eis a tua mulher: toma-a e vai -te!” 20Faraó o confiou a homens que os conduziram à fronteira, ele, sua mulher e tudo o que possuía.
[1] &Sb 10,5 // &At 7,2-3 // &Hb 11,8s
[2] &Jr 4,2 // &Eclo 44,21 // &At 3,25 // &Gl 3,8
[4] Gn 13,15; 15,18; 17,8; 26,3s // At 7,5 // Gl 3,16 // Gn 23+
[5] =Gn 20 // =Gn 26,1-11
[i] Título que deve ser compreendido de modo neutro: relatos a respeito dos patriarcas.
[ii] Os relatos sobre Abraão, tais como se apresentam no Génesis, são uma “teologia da promessa”: a dupla promessa divina de descendência e do dom da terra são os dois eixos centrais em torno dos quais se organiza ele uma ou de outra forma tudo o que os escritores sacros têm a dizer sobre o patriarca.
[iii] Os caps. 12-13 pertencem no essencial às tradições javistas, mas nem tudo se situa no mesmo nível da tradição ou de sua fixação descrita. Muito provavelmente, uma curta notícia de partida de Harã e de chegada em Canaã, uma espécie de itinerário, com a ordem divina de deixar Harã (12,1.4a), e um primeiro ponto de ligação ao redor de Betel (12,8; 13,3), são o núcleo da tradição. O itinerário é continuado pelo relato da separação de Abraão e de Ló (13,3s). Promessas de descendência e de bênção (12,2-3), depois a do dom da terra (12,7), podem ter sido acrescentadas a um estágio relativamente antigo da tradição assim como o relato da descida para o Egito (12,10-20), relato que não fala de Ló (com 13,1-4). Um desenvolvimento mais recente tal vez seja a promessa solene de 13,14-17. Os autores sacerdotais são responsáveis por alguns complementos onde se insiste sobre a riqueza de Abraão e de Ló, razão de sua separação (12,4b-5; 13,2.4-5). Se tal pode ter sido o desenvolvimento dos dois capítulos, a dupla promessa de descendência e do dom da terra vêm ocupar um lugar cada vez mais preponderante. Rompendo todas as suas ligações terrestres, Abraão parte para uma terra desconhecida, com sua mulher estéril (11,30), por que Deus o chamou e lhe prometeu uma posteridade. Primeiro ato de fé de Abraão que se encontrará de novo por ocasião da renovação da promessa (15,5-6+), e que Deus submeterá à prova pedindo Isaac, fruto dessa promessa (22+). A existência e o futuro cio povo eleito dependem desse ato absoluto ele fé (Hb 11,8-9). Não se trata somente de sua descendência carnal, mas de todos aqueles que a mesma fé tornará fi lhos de Abraão, como o mostra são Paulo (Rm 4; Gl 3,7).
[iv] A fórmula volta (com a palavra “clã” ou “nação”) em 18,18; 22 ,18; 26,4; 28,14. Em sentido estrito, ela significa (cf. v. 2 e 48,20; Jr 29,22): “Os clãs dirão entre si: Bendito sejas tu como Abraão”. Mas Eclo 44,21, a tradução dos LXX e o NT entenderam : “Em ti serão benditas todas as nações”.
[v] Dom da Terra Santa.
[vi] Esta história, cujo tema também se encontra no cap. 20 (ainda Sara), e em 26,1-11, celebra a beleza do antepassado da raça, a habilidade do Patriarca e a proteção que Deus concede aos dois. Ela traz a marca de uma idade moral em que a consciência não reprovava sempre a mentira e na qual a vida do marido valia mais que a honra da mulher. A humanidade, guiada por Deus, tornou consciência progressivamente da lei moral.
[vii] É também por causa de uma fome que os irmãos de José irão ao Egito (42,1-5). Ela leva à descida ao Egito de Jacó e todos os seus filhos (46).
[viii] Aproximação com um costume da Alta Mesopotâmia: na aristocracia hurrita, o marido podia ficticiamente adotar sua mulher como “irmã”, e esta passava a gozar então de maior consideração e de privilégios especiais. Esta teria sido a condição de Sarai, e Abrão ter-se-ia prevalecido disso diante dos egípcios, que, por sua vez, ter-se-iam equivocado (v. 19), como também o autor bíblico, que não mais conhecia o costume. A explicação é incerta.