I. Saul e Davi
1. Davi na corte
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Unção de Davi[i] [1] – 1lahweh disse a Samuel: “Até quando continuarás lamentando Saul, quando eu próprio o rejeitei, para que não reine mais sobre Israel? Enche de azeite o teu chifre e vai! Eu te envio à casa de Jessé, o belemita, porque vi entre os seus filhos o rei que eu quero.” 2Samuel disse: “Como poderei eu ir lá? Saul o saberá e me matará!” Mas lahweh replicou: “Levarás contigo uma ovelha e dirás: ‘Vim para sacrificar a lahweh!’ 3Convidarás Jessé para o sacrifício, e eu mesmo te mostrarei o que deverás fazer: tu ungirás para mim aquele que eu te disser.”
4Samuel fez o que Iahweh ordenou. Quando chegou a Belém, os anciãos da cidade vieram tremendo ao seu encontro e disseram: “Que tua vinda seja de paz!” 5Samuel disse: “Paz sobre vós. É para sacrificar a lahweh que eu vim. Purificai-vos e vinde comigo ao sacrifício.” Ele purificou Jessé e seus filhos e os convidou para o sacrifício.
6Logo que chegaram, quando Samuel viu Eliab, disse consigo: “Certamente Iahweh tem o seu ungido perante ele!” 7Mas lahweh disse a Samuel: “Não te impressione a sua aparência nem a sua elevada estatura: eu o rejeitei. Não se trata daquilo que veem os homens, pois eles veem apenas com os olhos, mas lahweh olha o coração”.[2] 8Jessé chamou Abinadab e o fez passar diante de Samuel, que disse: “Também não foi este que lahweh escolheu”. 9Jessé fez passar Sama, mas Samuel disse: “Também este não foi o que lahweh escolheu”.[3] 10Jessé fez assim passar os seus sete filhos diante de Samuel, mas Samuel declarou: “A nenhum destes lahweh escolheu”. 11Ele perguntou a Jessé: “Acabaram os teus filhos?” Ele respondeu: “Falta ainda o menor, que está tomando conta do rebanho.” Então Samuel disse a Jessé: “Manda procurá-lo, porque não nos sentaremos à mesa enquanto ele não estiver presente”. 12Jessé mandou chamá-lo: era ruivo, de belo semblante e admirável presença. E Iahweh disse: “Levanta-te e unge-o: é ele!”[4] 13Samuel apanhou o vaso de azeite e ungiu-o na presença dos seus irmãos. O espírito de lahweh precipitou-se sobre Davi[ii] a partir desse dia e também depois. Quanto a Samuel, ele se pôs a caminho e partiu para Ramá.[5]
Davi entra a serviço de Saul[iii] – 14O espírito de Iahweh tinha se retirado de Saul, e um mau espírito, procedente de lahweh,[iv] o atormentava. 15Então os servos de Saul lhe disseram: “Eis que um mau espírito vindo de Deus te atormenta. 16Mande nosso senhor, e os servos que te assistem irão buscar um homem que saiba dedilhar a lira e, quando o mau espírito da parte de Deus te atormentar, ele tocará e tu te sentirás melhor”.[v] 17Então Saul disse a seus servos: “Procurai, pois, um homem que toque bem e trazei-mo”. 18Um dos seus servos pediu para falar e disse: “Tenho visto um filho de Jessé, o belemita, que sabe tocar e é um valente guerreiro, fala com discernimento, é de bela aparência e lahweh está com ele”. 19Saul despachou logo mensageiros a Jessé com esta ordem: “Maneia-me o teu filho Davi (que está com o rebanho)”. 20Jessé tomou um jumento: pão, um odre de vinho, um cabrito, e mandou seu filho Davi levar tudo a Saul. 21Davi chegou à presença de Saul e se pôs ao seu serviço. Saul sentiu grande afeição por ele, e Davi se tornou seu escudeiro. 22Saul mandou dizer a Jessé: “Que Davi fique a meu serviço, porque conquistou a minha admiração”. 23Todas a vezes que o espírito de Deus o acometia, Davi tomava a lira e tocava; então Saul se acalmava, sentia-se melhor e o mau espírito o deixava.
[1] Rt 4,17-22 // Is 11,1
[2] 1Sm 9,2; 10,23s // Jó 10,4 // SI 147,10s
[3] Jr 11,20+ // Pr 15,11 // ls 55,8-9
[4] Gn 39,6 // 2Sm 14,25s
[5] 1Sm 10,6 // Jz 3,10+
[i] Este episódio liga a tradição de Davi a Samuel e parece provir da tradição profética, e está desligado da continuação da história; Davi foi ungido em Hebron pelos homens de Judá (2Sm 2,4), depois pelos anciãos de Israel (2Sm 5,3), e a unção aqui relatada não será mais mencionada: segundo 17,28 e apesar de 16,13, Eliab a ignora. Como o cap. 9 para Saul, a narrativa serve de prefácio à história da “ascensão” de Davi.
[ii] Sem nenhum sinal exterior e em ligação imediata com a unção: o “espírito de lahweh” é aqui a graça concedida à pessoa consagrada.
[iii] Havia duas tradições sobre o começo do tempo em que Davi serviu a Saul. Segundo uma delas, Davi é chamado como trovador à corte de Saul e se torna seu escudeiro (16,14-23); como tal, acompanha o rei em sua guerra contra os filisteus (17,1-11) e distingue-se num combate singular (17,32-53 misturado com a outra tradição). Segundo a outra, Davi é jovem pastor desconhecido de Saul, e vem ver seus irmãos no exército, exatamente no momento em que o guerreiro filisteu provoca os israelitas (17,12-30; o v. 31 é v. de ligação; a seguir se retoma a primeira narrativa, 17,32-53). Então Saul manda vir o novo herói e o toma a seu serviço (17,55-18,5).
[iv] Havendo o espírito de lahweh (cf. Jz 3,10+) abandonado Saul (15,23), este é “possuído” por mau espírito. Diz-se que ele vem de lahweh e será chamado “espírito mau de Deus” (vv. 15 e 16; cf. 18,10; 19,9), porque o israelita atribui tudo a Deus como à causa primeira. (Comparar o espírito de discórdia, Jz 9,23, o espírito de mentira, 1Rs 22,19-23, o espírito de vertigem, Is 19,14, o espírito de torpor, Is 29,10).
[v] A música foi empregada em toda a antiguidade quer para estimular o bom espírito (cf. 10,5), quer para expulsar o mau espírito.