1. A passagem do Jordão[i]
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Preliminares da passagem – 1Josué levantou-se de madrugada e partiu de Setim com todos os israelitas; vieram até o Jordão e ali pousaram, antes de atravessar. 2Ao fim de três dias, os escribas percorreram o acampamento[1] 3e ordenaram ao povo: “Quando virdes a Arca da Aliança de Iahweh vosso Deus sendo carregada pelos sacerdotes levitas, vós também partireis do vosso lugar e a seguireis,[2] – 4[ii]todavia, haja entre vós e a Arca um espaço de cerca de dois mil côvados: não vos aproximeis dela. – Assim sabereis qual caminho tomar, pois jamais passastes por este caminho”. 5Josué disse ao povo: “Santificai-vos, porque amanhã Iahweh fará maravilhas no meio de vós.”[3] 6Depois Josué disse aos sacerdotes: “Levantai a Arca da Aliança e passai adiante do povo.” Eles levantaram a Arca da Aliança e foram adiante do povo.
Últimas instruções – 7Iahweh disse a Josué: “Hoje começarei a engrandecer-te aos olhos de todo o Israel, para que saibam que assim como estive com Moisés estarei contigo.[4] 8E tu ordenarás aos sacerdotes que levam a Arca da Aliança, dizendo: ‘Quando chegardes à borda das águas do Jordão, parareis no próprio Jordão.'” 9Disse então Josué aos israelitas: “Aproximai-vos e ouvi as palavras de Iahweh vosso Deus.” 10Acrescentou Josué: “Nisto reconhecereis que o Deus vivo está no meio de vós e que certamente expulsará da vossa presença os cananeus, os heteus, os heveus, os ferezeus, os gergeseus, os amorreus e os jebuseus.[5] 11Eis que a Arca da Aliança do Senhor de toda a terra vai passar o Jordão diante de vós. 12Agora, pois, tomai doze homens das tribos de Israel, um homem de cada tribo.[6] 13E quando as plantas dos pés dos sacerdotes que transportam a Arca de Iahweh, Senhor de toda a terra, pousarem nas águas do Jordão, as águas do Jordão serão cortadas; as águas que descem de cima pararão numa só massa.”
A passagem do rio – 14Ora, quando o povo deixou suas tendas para passar o Jordão, os sacerdotes que levavam a Arca da Aliança estavam à frente do povo. 15Assim que os transportadores da Arca chegaram ao Jordão e que os pés dos sacerdotes que transportavam a Arca se molharam nas bordas das águas – pois o Jordão transborda pelas suas margens durante toda a ceifa[iii] -, 16as águas que vinham de cima pararam e formaram uma só massa a uma grande distância, em Adam, cidade que fica ao lado de Sartã; ao passo que as águas que desciam em direção ao mar da Arabá, o mar Salgado, ficaram inteiramente separadas.[iv] O povo atravessou defronte de Jericó.[7] 17Os sacerdotes que transportavam a Arca da Aliança de Iahweh detiveram-se no seco, no meio do Jordão, enquanto todo o Israel passava pelo seco, até que toda a nação acabou de atravessar o Jordão.[8]
[1] Js 1,10+
[2] Js 8,33
[3] Ex 19,10.15
[4] Js 1,5.17
[5] Ex 34,9-10 // Dt 7,1+
[6] Js 4,2
[7] Ex 14,21
[8] Ex 14,22 // 2Rs 2,8
[i] A narrativa da passagem do Jordão e da entrada em Canaã (3,1-5,12) apresenta paralelismo com a narrativa da saída do Egito, que um redator sublinha (3,7; 4,14.23): Iahweh para o curso do Jordão (3,7-4,18), como havia feito secar o mar dos Juncos (Ex 14,5-31 ); a Arca de Iahweh guia a passagem (Js 3,6-17; 4,10-11), como a coluna de nuvem ou de fogo (Ex 13,21-22; 14,19-20); Josué (Js 3,7; 4,14) desempenha o mesmo papel que Moisés no Exodo; a circuncisão, que o redator de Js atribui ao povo do Êxodo, é renovada para os seus descendentes nascidos no deserto (Js 5,2-9); o maná, que havia sido a alimentação do deserto (Ex 16), deixa de cair desde a entrada em Canaã (Js 5,12), e a Páscoa é celebrada em Guilgal, após a segunda “passagem” (Js 5,10), como havia sido no Egito, antes da primeira (Ex 12,1-28; 13,3-10). Este paralelismo entre os acontecimentos do começo e do fim do Êxodo faz reportar à saída do Egito um milagre da água, análogo à travessia do Jordão (cf. Ex 14+). – Como a paixão e a ressurreição de Cristo renovarão espiritualmente os acontecimentos do Êxodo (cf. 1Cor 10,1), Josué, que dá a tais acontecimentos o seu primeiro cumprimento, foi considerado pelos Padres da Igreja como figura de Jesus, do qual é homônimo.
[ii] A distância de um caminho sabático. Esta indicação, mal inserida entre o final do v. 3 e sua sequência lógica no v. 4b, exprime escrúpulo que se inspira na transcendência terrível de Iahweh presente sobre a Arca, 2Sm 6,7+.
[iii] Esta enchente se produz com o descongelamento das neves do Hermon, em março-abril, no tempo da ceifa no vale baixo do Jordão.
[iv] Relaciona-se esse fato com o ocorrido em 1267, segundo cronista árabe: o Jordão cessou de correr durante dez horas, porque desmoronamentos do terreno haviam obstruído o vale, precisamente na região de Adamá-Damieh.